Os
bairros do centro da capital paulista tiveram, nesta sexta-feira
(22), o quinto dia consecutivo de queda da energia elétrica
fornecida pela concessionária Enel. Desde segunda-feira (18), Os
bairros mais atingidos são Consolação, Bela Vista, Vila Buarque,
Santa Cecília, Higienópolis e Campos Elíseos.
Hoje, a região da
República também enfrentou o apagão. O edifício Copan, onde vivem
cerca de 5 mil pessoas, ficou sem luz e teve algumas áreas
abastecidas por geradores. A falta de energia na capital já afetou a
região da Rua 25 de Março, no São Bento, e o Aeroporto de
Congonhas, que, há uma semana, precisou suspender pousos e
decolagens por mais de uma hora.
Também ficaram sem energia
a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e o Hospital Santa
Isabel, da Rede D’Or, escolas, faculdades, residências e o
comércio local. “Não tem previsão de volta da energia hoje. A
gente está perdendo de R$ 1mil a R$ 2 mil por dia. Em média, nós
fazemos serviço em dois ou três celulares por dia”, reclamou o
empresário Ruan Cardoso, que tem uma loja de conserto desses
aparelhos na região da Rua Sete de Abril.
O comerciante Luiz Alberto,
que vende produtos perecíveis, queixou-se da falta de previsão da
concessionária para a volta da energia e disse que seu prejuízo
está entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. “Tivemos que realocar nossos
produtos em outras lojas, entre lojistas de muita boa vontade aqui
dos arredores. Não recebemos nenhuma satisfação da Enel, a não
ser pela própria imprensa."
“Ontem, às 18h, já
faltou luz, dispensei o meu quadro de funcionários. E hoje, desde
que chegamos, não estamos trabalhando. Ninguém aqui nos arredores
está trabalhando”, acrescentou Luiz Alberto.
A comerciante Gabriela
Bonilha, proprietária de uma cafeteria na Vila Buarque, precisou
fechar o estabelecimento na segunda e na terça-feira por causa dos
recorrentes apagões. A energia voltou na quarta-feira (20), mas
parcialmente, o que impossibilitava o funcionamento dos equipamentos
220 volts. “Todo o nosso maquinário é 220 volts. Então, as
geladeiras não funcionavam. Fomos distribuindo por geladeiras
e freezers vizinhos
que estavam funcionando. Aí, ficamos um pouco desesperados, porque
são muitas contas fixas, nossos funcionários são fixos”, afirmou
Gabriela.
A solução foi passar a
trabalhar, mesmo que precariamente, para tentar evitar que os
prejuízos aumentassem. “Começamos a operar com uma air
fryer caseira [que
funciona em 110 volts] e uma garrafa térmica. Ficamos vendendo
pãozinho de queijo feito na
air fryer, café
coado na térmica e pacotinho de café em grão.”
Segundo a comerciante, a
concessionária Enel não deu informações sobre quando voltaria a
energia, e as tentativas de contato foram frustradas. “A gente
tenta ligar, só gravação, ninguém atende. Uma gravação diz que
tem problemas na região, mas não dá explicação”. Gabriela
informou que o fornecimento de energia voltou ao normal apenas no
início da noite da quinta-feira.
Para compensar o prejuízo
gerado no período, que ela estima em cerca de R$ 5 mil, a cafeteria
passará a fazer eventos aos domingos, juntamente com outras lojas
que também foram afetadas pelos apagões. “Está todo mundo meio
que se unindo, assim, para tentar não sofrer tanto com tudo isso que
rolou.”
Concessionária
Em nota, a Enel
Distribuição São Paulo informou que restabeleceu, às 16h de hoje,
o serviço para 97% dos clientes afetados. “No momento, cerca de
600 clientes estão sem energia após as ocorrências que afetaram a
rede subterrânea nesta semana. A companhia está mobilizando
geradores para atendê-los.”
A concessionária lamentou
os transtornos causados pelos apagões e explicou que os problemas
começaram com danos em diferentes circuitos subterrâneos, “cuja
reparação é complexa e demorada, dadas as dificuldades e
especificidades desse tipo de rede (galerias subterrâneas)”.
Hoje, o Ministério Público
de Contas pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) a apuração
sobre a ineficiência na prestação de serviço da concessionária
Enel. Caso sejam encontradas falhas, o MP pedirá a extinção da
concessão.
“Encontradas
irregularidades na atuação da concessionária, determinar a
extinção da concessão, sem prejuízo de aplicação de outras
sanções cabíveis”, diz o texto do pedido, assinado pelo
subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado.