O
projeto de lei que estabelece o novo ensino médio do Brasil, que
propõe mudanças na carga horária e no currículo de milhões de
estudantes do País, foi aprovado pela Comissão de Educação do
Senado, em reunião extraordinária realizada nesta quarta-feira
(19). A proposta é um substitutivo apresentado pela relatora do
projeto, a senadora Professora Dorinha Seabra (União-TO), ao texto
de autoria do Poder Executivo (5.230/2023). Após conversas com o
ministro da Educação, Camilo Santana, Dorinha Seabra retomou
proposta relacionada à carga horária da formação básica, um dos
pontos mais controversos do texto. Agora, o projeto será avaliado,
com pedido de urgência, pelo plenário do Senado.
Como
fica a carga horária?
Sobre
a carga horária do novo ensino médio, o projeto substitutivo
aprovado na Comissão de Educação do Senado prevê que:
– A carga horária mínima total
destinada à formação geral básica (FGB) passa das atuais 1.800
horas para 2.400 horas – como defendia a proposta do governo
federal – em cursos cujos itinerários de aprofundamento sejam nas
áreas da educação (Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e
Ciências da Natureza).
– A carga horária mínima anual
do ensino médio amplia de 800 para 1.000 horas (o acréscimo será
distribuído em 200 dias letivos), mas poderá chegar a 1.400 horas,
de forma progressiva
– Nos
cursos técnicos e profissionais, a formação geral básica poderá
ter carga horária mínima de 2.200 horas até 2028 e 2.400 a partir
de 2029 – igualando com a carga horária de formação geral
básica.
– Para os cursos do ensino médio
com ênfase em formação técnica e profissional, a carga horária
para esta modalidade aumenta, até 2029, de 3.000 horas e para 3.200,
3.400 e 3.600 horas, quando forem ofertadas, respectivamente, cursos
técnicos de 800, 1.000 e 1.200 horas.
Como ficam os itinerários
formativos?
Os itinerários formativos são as
disciplinas, projetos, oficinas e núcleos de estudo que os
estudantes podem escolher fazer ao longo dos três anos do ensino
médio. A medida foi uma das principais inovações apresentadas na
reforma do ensino médio de 2017.
A nova versão do projeto
determina que:
– Os itinerários formativos
terão, agora, carga mínima de 800 horas nos três anos de ensino
médio e serão compostos de aprofundamento das áreas do
conhecimento da BNCC (linguagens, matemática, ciências da
natureza e ciências humanas e sociais) ou de formação técnica e
profissional;
– Para os casos de formação
técnica e profissional, o itinerário formativo será ofertado
conforme os eixos e áreas tecnológicas que são definidas nas
diretrizes curriculares nacionais de educação profissional e
tecnológica;
– Os sistemas de ensino devem
garantir que todas as escolas de ensino médio ofertem aprofundamento
integral de todas as áreas do conhecimento, organizadas em dois
itinerários formativos com ênfases distintas, excetuadas as que
oferecerem a formação técnica e profissional;
– O Ministério da Educação
(MEC) elabore diretrizes nacionais de aprofundamento de cada uma das
áreas do conhecimento, que orientam os estudantes em relação aos
direitos e aos objetivos de aprendizagem a serem considerados nos
itinerários formativos;
– Os estudantes, concluinte ou
egresso do ensino médio, podem cursar um segundo itinerário
formativo caso haja disponibilidade de vagas.
Como fica a formação técnica?
O projeto original previa que a
formação técnica e profissional tivesse 2.100 horas. A relatora,
porém, resolveu equiparar com a carga da formação geral básica
(2.400 horas) para não fazer diferença entre as formações.
– Assim, a formação técnica
terá carga horária mínima de 2.400 horas, sendo 2.200 horas até
2028, com o acréscimo das demais 200 horas em 2029.
– A lei propõe que cursos que
ofertem 800 horas de formação técnica tenham, obrigatoriamente,
3.200 horas no total, por exemplo. Aqueles com 1.000 horas de
formação técnica, tenham 3 400 horas no total, e assim por diante.
Enem
O texto aprovado determina que os
processos seletivos para ingresso em faculdades, como o Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem), deverão considerar, a partir de
2027, a BNCC do ensino médio e as diretrizes nacionais de
aprofundamento das áreas do conhecimento como referencial para a
construção e realização da prova.
No texto da Câmara, os deputados
admitiam conteúdos gerais e também dos itinerários formativos (a
partir de uma diretriz que deveria ser feita pelo Ministério da
Educação).
O ministro da Educação, Camilo
Santana, já vinha sinalizando que acreditava ser difícil incorporar
a avaliação da parte flexível do currículo no exame, usado hoje
como principal porta de acesso para as universidades públicas do
País.
Obrigatoriedade do espanhol
O texto aprovado na Comissão de
Educação restabeleceu a obrigatoriedade do ensino de espanhol nas
escolas públicas brasileiras. O tópico havia sido removido do texto
aprovado pela Câmara. Havia uma demanda grande de entidades ligadas
ao ensino de línguas e também de países hispanofalantes pela
retomada da obrigatoriedade. A pauta também é apoiada por
parlamentares de esquerda.