O Fundo Amazônia, mecanismo criado
pelo governo federal para apoiar ações de preservação da floresta
e combate a crimes ambientais, aplicou somente 11% dos R$ 634 milhões
recebidos em 2024, somando R$ 73 milhões em investimentos. A
informação foi apurada pelo g1 com base nos dados de
transparência do fundo, que é administrado pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Estabelecido em 2008, o Fundo
Amazônia busca financiar projetos que reduzam as emissões de
carbono provenientes da degradação florestal e do desmatamento. O
fundo ficou paralisado durante a gestão do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) e foi reativado em 2023, quando o presidente Lula (PT)
anunciou a retomada do mecanismo, com o apoio da Noruega, que voltou
a contribuir.
A baixa
execução dos recursos ocorre em um momento crítico para a
Amazônia, com recordes de queimadas e a maior estiagem em 44 anos.
Enquanto isso, a liberação de uma quantia considerável de R$ 315
milhões pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas
para Organizações Não Governamentais (ONGs) com as quais se
relaciona colocou a titular da pasta, a ministra Marina Silva, sob
pressão. A deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC) apresentou um
requerimento pedindo que Marina Silva esclareça o repasse desses R$
315 milhões, questionando a transparência e a aplicação dos
recursos em meio à crise de incêndios.
Questionado sobre as limitações
dos investimentos do Fundo Amazônia, o BNDES não forneceu detalhes
específicos, mas afirmou que as doações recebidas “não são
destinadas a projetos específicos”. Os desembolsos, segundo o
banco, dependem do cronograma de execução dos projetos contratados
e da comprovação das atividades realizadas.
Entre os
recursos recebidos em 2024, destacam-se as contribuições da Noruega
(R$ 282,5 milhões), Estados Unidos (R$ 256,9 milhões), Alemanha (R$
88,6 milhões) e Japão (R$ 14,9 milhões). Em 2023, o Fundo Amazônia
havia recebido R$ 726 milhões e aprovado nove novos projetos,
totalizando R$ 553 milhões alocados. Em 2024, os R$ 73 milhões
desembolsados foram direcionados a ações como o combate ao
desmatamento no Acre, restauração florestal e monitoramento do uso
da terra.
Além das doações já recebidas,
outros compromissos foram anunciados, mas ainda não foram
concretizados, como a doação de R$ 120 milhões da União Europeia
e mais de R$ 110 milhões prometidos pela Dinamarca, com desembolso
previsto até 2026. O Reino Unido também firmou uma doação de
cerca de R$ 584 milhões, ainda pendente de repasse.
Desde
sua criação, o Fundo Amazônia já arrecadou mais de R$ 4,1 bilhões
em doações, segundo o BNDES, que destaca que há recursos já
comprometidos para projetos ainda em fase de execução. Entre os
principais projetos que receberam recursos, destacam-se o Rumo ao
Desmatamento Ilegal Zero no Acre (R$ 21,4 milhões) e o Projeto
Dabucury, que visa fortalecer a gestão etnoambiental nas Terras
Indígenas da Amazônia (R$ 15,1 milhões).
A aplicação reduzida dos recursos
levanta preocupações, especialmente em um período de
intensificação dos desafios ambientais na região amazônica, como
o avanço do desmatamento e das queimadas. Paralelamente, a
destinação de recursos para ONGs e a pressão por maior
transparência no uso desses fundos aumentam as tensões entre o
governo federal e a oposição no Congresso.