O tenente-coronel do
Exército Mauro Cid (foto) corre o risco de perder os benefícios
garantidos ao assinar acordo de delação premiada com a Polícia
Federal (PF) para escapar da prisão em função das investigações
que o envolvem juntamente com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O ex-ajudante de ordens de
Bolsonaro voltou a ser preso ontem (22) por determinação do
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, após
a revista Veja
divulgar mensagens de áudio nas quais o militar criticou a atuação
do ministro e da PF.
Segundo o STF, Cid
descumpriu medidas cautelares pactuadas no acordo ao fazer as
declarações. O militar também vai responder pelo crime de
obstrução de Justiça. Ele está preso no batalhão da Polícia do
Exército, em Brasília.
O militar estava em
liberdade desde setembro do ano passado, quando assinou acordo de
delação e ganhou o direito de responder em liberdade aos processos
que tramitam contra ele.
A partir da nova prisão,
os investigadores da PF passaram a avaliar se os benefícios
concedidos a Cid serão mantidos. A decisão final será do Supremo.
Cid assinou acordo de
colaboração premiada após ter sido preso no ano passado pela
investigação que apura fraudes em certificados de vacinação
contra a covid-19. Além do caso referente às vacinas, Cid cooperou
também com o inquérito sobre uma tentativa de golpe de Estado que
teria sido elaborada no alto escalão do governo Bolsonaro.
Rescisão
Se a Polícia Federal
concluir que Mauro Cid não cumpriu as obrigações do acordo, o
ex-ajudante de ordens poderá ser alvo de um pedido de rescisão da
colaboração. A medida não anularia a delação, mas cancelaria os
benefícios, entre eles, o direito de permanecer em liberdade.
A rescisão de delações
premiadas já foi utilizada em outras grandes investigações. Em
2017, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a
rescisão da delação dos executivos do grupo J&F.
Na ocasião, os empresários
Joesley e Wesley Batista foram acusados de omitir informações
durante a celebração do acordo. Em 2020, o acordo foi restabelecido
após os acusados se comprometerem a pagar cerca de R$ 1 bilhão de
multa.
Áudios
De acordo com a reportagem
da Veja,
Cid afirmou que foi pressionado pela PF a delatar episódios dos
quais não tinha conhecimento ou “que não aconteceram”. O
ex-ajudante também afirmou, segundo a publicação, que a
Procuradoria-Geral da República e o ministro Alexandre de Moraes,
relator das investigações sobre o militar no STF, têm uma
“narrativa pronta” e estariam aguardando somente o momento certo
de “prender todo mundo”.
Ontem, Cid foi chamado a
explicar as declarações durante audiência judicial presidida por
um juiz auxiliar do gabinete de Alexandre de Moraes.
O ex-ajudante confirmou na
audiência que enviou a mensagem de áudio a amigos em tom de
“desabafo”. Ao contrário do que disse nas mensagens, o militar
reafirmou que decidiu espontaneamente delatar os fatos que presenciou
durante o governo Bolsonaro e que não houve pressão da PF ou do
Judiciário para fazer as acusações.
Cid não revelou para quem
mandou o áudio com as críticas a Moraes e a PF. Ao optar por não
informar com quem falou, o tenente-coronel será alvo de nova
investigação.
Defesa
Após a divulgação da
matéria de Veja,
a defesa de Mauro Cid também alegou que os diálogos foram feitos em
tom de desabafo.
Os advogados disseram que
as falas “não passam de um desabafo em que relata o difícil
momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais
está passando".