Governadores
do Nordeste apresentaram. nesta quarta-feira (3), a integrantes do
governo federal, propostas para aliviar problemas nas finanças
dos estados, que se agravaram com as perdas de arrecadação causadas
pela desoneração do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS), em vigor há quase dois anos. O encontro ocorreu no
Palácio do Planalto, em Brasília, com a participação dos
ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda) e
Alexandre Padilha (Relações Institucionais). As alternativas
propostas preveem aumento do percentual de repasses ao Fundo de
Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE), o alongamento
de dívidas com instituições financeiras e o parcelamento de
precatórios (dívidas reconhecidas pela Justiça) e débitos
previdenciários.
"Aquilo
[desoneração do ICMS] trouxe, sem dúvida nenhuma, um impacto
violento, que causou uma redução brutal nas receitas dos estados.
Os estados do Norte e do Nordeste foram exatamente os mais afetados.
Já no governo do presidente Lula, houve um esforço nesse sentido,
que culminou com uma compensação, pactuada em 2023, mas essa
compensação não foi suficiente, do ponto de vista de trazer o
equilíbrio fiscal, para os nossos estados. Os estados enfrentam
sérias dificuldades, que, repito, têm origem lá, a partir,
exatamente, das mudanças do ICMS em 2022", afirmou a
governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, presidente o
Consórcio do Nordeste, formado pelos nove governadores da região.
Ela fez referência a aprovação das leis complementares 192
e 194 em junho de 2022,
que impuseram um teto de 17% ou de 18% (dependendo do estado) para o
ICMS sobre combustíveis, energia, telecomunicações e transporte
público. Anteriormente, havia estado que cobrava mais de 30% de ICMS
sobre os combustíveis.
Para
neutralizar as perdas de arrecadação, a União foi obrigada
compensar as unidades das Federação, e um acordo foi celebrado
em março do ano passado
prevendo uma compensação de R$ 26,9 bilhões, a ser equacionada até
2026, por meio, principalmente, do abatimento de dívidas dos estados
com o governo federal.
Atualmente,
salientou Fátima Bezerra, alguns estados nordestinos, mesmo sendo
menos endividados do que estados de outras regiões, como Sul e
Sudeste, estão com dificuldades em garantir o custeio da máquina
pública, realizar pagamento das despesas obrigatórias, além de
incapacidade para investimentos.
"Nós
apresentamos ao ministro Haddad algumas alternativas que, no nosso
entendimento, trariam um alívio do ponto de vista fiscal, financeiro
e orçamentário aos nossos estados", observou. Uma das
reivindicações é o apoio do governo na aprovação da Proposta de
Emenda Constitucional 51/2019, que aumenta de 21,5% para 26% a
parcela dos valores arrecadados dos impostos sobre a renda e
proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados
destinada ao FPE.
"Nesses
últimos 10 anos, se avançou no que diz respeito ao percentual do
imposto de renda e do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados]
destinados ao Fundo de Participação dos Municípios, que está em
torno de 26%, enquanto esse percentual para os estados ficou
estagnado, em torno de 22%. Pedimos o apoio do governo federal para
que pudesse avançar a aprovação da PEC 51, que trata da
equivalência salarial entre o FPE e o FPM, de forma escalonada em um
período de 5 anos", detalhou Fátima Bezerra. Alegando
necessidade de tratamento isonômico entre o governo federal e os
estados, a presidenta do Consórcio Nordeste também enfatizou um
pedido de reestruturação do pagamento de precatórios e alongamento
de dívidas das unidades da Federação com bancos. "O Nordeste
entende que temos que ter um tratamento igualitário, isonômico. O
ministro Haddad foi bastante atencioso, ficou de estudar",
adiantou.
O
governador do Piauí, Rafael Fonteles, fez questão de dizer que
nenhuma das medidas propostas teriam impacto nas contas do governo
federal, que busca o déficit zero em 2024. O resultado primário é
calculado pela diferença entre receitas e despesas, excluídas
receitas e despesas com juros. "São soluções que ajudam os
entes da federação, especialmente o Nordeste, sem comprometer a
meta fiscal da União no curto prazo", pontuou.
A
reportagem procurou a Casa Civil e o Ministério da Fazenda para
falarem sobre as demandas apresentadas pelo Consórcio do Nordeste,
mas as pastas disseram que, por ora, não vão comentar. Segundo os
próprios governadores, uma resposta é aguardada para cerca de 30
dias.