A
desburocratização do acesso aos quatro principais fundos
internacionais voltados para o financiamento de projetos ambientais
se tornou uma das pautas prioritárias do Brasil em sua passagem pela
presidência do G20. Com o objetivo de identificar os principais nós
a serem desatados, um grupo de especialistas vêm estudando cada um
deles: Green Climate Fund (GCF), Climate Investment Funds (CIF),
Adaptation Fund e Global Environment Facility (GEF).
"Parte
dos recursos alocados nesses fundos não têm chegado na ponta",
afirmou o subsecretário de Financiamento ao Desenvolvimento
Sustentável do Ministério da Fazenda, Ivan Oliveira. O tema foi
discutido nesta terça-feira (21) durante reunião sobre
financiamento climático, na sede do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro.
O
evento integrou a agenda de esforços da presidência brasileira do
G20. Participaram representantes do BNDES, do Ministério da Fazenda,
da organização filantrópica Instituto Clima e Sociedade (iCS) e da
Finance in Common (FiCS), uma rede global de bancos públicos de
desenvolvimento que visa alinhar os fluxos financeiros em consonância
com o Acordo de Paris para as Alterações Climáticas.
Segundo
Oliveira, a dificuldade de acessar recursos dos fundos verdes afetam
todos os países em desenvolvimento, mesmo aqueles que, como o
Brasil, possuem instituições com grande experiência e capacitadas
para realizar operações financeiras.
"O
BNDES é uma das instituições acreditadas no GCF, por exemplo, e
não tem conseguido acessá-lo a contento por conta da burocracia. Há
um excesso de critérios que acabam dificultando que o projeto
aconteça", afirmou.
O
G20 é formado pelas 19 maiores economias do mundo, além da União
Europeia e da União Africana. O grupo se consolidou como foro global
de diálogo e coordenação sobre temas econômicos, sociais, de
desenvolvimento e de cooperação internacional. Em 1º de dezembro
de 2023, o Brasil substituiu a Índia e assumiu a presidência. O
mandato é de um ano. É a primeira vez que o país assume essa
posição no atual formato do G20, estabelecido em 2008. Em novembro
de 2024, está prevista a realização da Cúpula do G20 no Rio de
Janeiro.
Outro
tema que também está na pauta da agenda brasileira é a reforma de
bancos multilaterais de desenvolvimento, como o Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID) e o Banco Internacional de Reconstrução e
Desenvolvimento (Bird), também conhecido como Banco Mundial. Apesar
de reconhecer que o G20 não tem poder decisório, Oliveira
considerou que o grupo pode ser protagonista das mudanças.
"Esperamos
que G20 dê um impulso político para que os conselhos diretivos
iniciem um processo de reforma tanto na área de acreditação,
mas também na área de desembolsos".
Segundo
ele, o grupo de especialistas dedicado ao tema é coordenado por
Josué Tanaka, especialista com vasta experiência em finanças
ambientais. "Eles têm feito contato tanto com as instituições
que conseguiram acessar os fundos como com aquelas que não
conseguiram. A ideia é mapear cada caso e assim chegar com
recomendações específicas para cada um dos fundos, que têm
sistema de governança muito diferentes", acrescentou.
O
primeiro relatório com recomendações deve ser entregue no próximo
mês, em Belém, onde ocorrerá um evento do G20 dedicado às
finanças sustentáveis.
Sertão
Vivo
Segundo
Oliveira, por conta da burocracia excessiva, o projeto Sertão Vivo
demorou a sair do papel. Lançado no ano passado, ele visa mitigar
efeitos da mudança climática, fortalecer a agricultura familiar,
aumentar a produtividade e combater a fome no Nordeste. A iniciativa
foi elaborada junto ao Fundo Internacional de Desenvolvimento
Agrícola (Fida) da Organização das Nações Unidas (ONU) e
contou também com recursos do GCF e do BNDES.
"É
um excelente modelo de como você pode usar diferentes fontes de
dinheiro público para gerar impacto em um tema absolutamente
importante que é a pobreza rural e a agricultura familiar no Brasil.
E ao mesmo tempo tendo foco na adaptação climática. Ou seja,
conecta perfeitamente dois temas que o governo têm tentado
impulsionar. Mas esse projeto levou sete a oito anos para acontecer.
E parte desse atraso tem a ver com acesso aos serviços do GCF. O
Sertão Vivo é um projeto relevante que agora está acontecendo no
Brasil, mas que demorou tempo demais para ser implementado e as
mudanças climáticas exigem que os fundos façam entregas com mais
agilidade para gerar impacto nas nossas economias".
O
francês Rémy Rioux, presidente da FiCS, disse concordar que os
procedimentos para acessar os recursos do GCF têm sido
excessivamente longos, mas apontou duas razões para
considerá-lo um fundo especial. Segundo ele, sua governança é
provavelmente a mais equilibrada entre o Norte global e o Sul global.
Além disso, o acesso ao GCF não seria restrito a um número pequeno
de instituições. Rioux destacou que muitos bancos públicos se
adaptaram para ser capazes de captar recursos e financiar projetos
verdes. "É o mais aberto. Se você quiser ter acesso, você tem
uma chance", disse.
Criado
em 2020, o FiCS surgiu da necessidade de produzir conhecimento e de
fomentar a troca de informações entre os bancos públicos de
desenvolvimento, sejam eles nacionais, internacionais ou
multilaterais. Nesse processo, foram identificadas 530 instituições.
De acordo com Rioux, elas somam US$ 23 trilhões em ativos e,
anualmente, são investidos US$ 2,5 trilhões. Desse total, 90% são
disponibilizados por bancos nacionais e 10% pelos internacionais.
"Isso não é uma promessa. É o que já estamos entregando
anualmente".