O governo do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) alterou os dados do INSS para diminuir em quase R$
12 bilhões as projeções de despesas com benefícios da Previdência
Social neste ano. Essa manobra contábil foi necessária para liberar
R$ 2,9 bilhões do orçamento e cumprir o acordo que desbloqueia mais
R$ 3,6 bilhões em emendas parlamentares. As alterações nos
dados foram documentadas em notas técnicas obtidas pela Folha de São
Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e publicadas na
sexta-feira (14).
Segundo o Balanço Geral da União
(BGU), o déficit previdenciário deste ano deve alcançar 2,5% do
PIB, ou R$ 326,2 bilhões, sugerindo a necessidade de uma nova
reforma futura. Essa projeção representa uma piora em relação à
estimativa feita em 2023, que previa um déficit de 2,2%.
Conforme os
registros, em 15 de maio, a coordenação de Orçamento e Finanças
do INSS indicou que as despesas com benefícios totalizariam R$ 912,3
bilhões para o ano, considerando o ritmo de execução até abril e
um crescimento vegetativo de 0,64% ao mês, devido à redução das
filas de espera.
Contudo, quatro dias depois, a
Diretoria de Benefícios (Dirben) e a assessoria da Presidência do
INSS recomendaram utilizar uma taxa de crescimento vegetativo de
apenas 0,17%, um quarto da taxa inicial.
Essa nova
recomendação resultou em uma reavaliação, emitida em 20 de maio,
que reduziu a projeção das despesas com benefícios para R$ 902,7
bilhões. Além disso, foram descontados outros R$ 9,05 bilhões
previstos com economias provenientes de medidas de produtividade e
revisão de benefícios.
A revisão também afetou a
projeção de gastos com a compensação previdenciária, um ajuste
financeiro entre o INSS e estados e municípios quando ex-segurados
do INSS se aposentam pelos regimes próprios desses entes. A
estimativa caiu de R$ 10,2 bilhões para R$ 7,96 bilhões.
No total, essas
alterações evitaram um aumento de R$ 11,84 bilhões nas projeções
de despesas da Previdência.
Em uma nota técnica de 19 de maio,
a Dirben justificou que os dados de concessão do primeiro
quadrimestre foram influenciados pelo Programa de Enfrentamento à
Fila da Previdência Social (PEFPS), que vigora até 13 de agosto de
2024, com possibilidade de extensão até novembro.
Segundo a nota, os
primeiros meses do ano apresentam “desafios operacionais” que
distorcem a produtividade, como férias em janeiro e o menor número
de dias úteis em fevereiro.“Propor um crescimento vegetativo de
0,64% ao mês com base nesse período seria inapropriado”,
argumentou a Dirben, sugerindo a adoção de uma taxa anual de 2,09%,
equivalente a 0,17% ao mês.
“Propor um
crescimento vegetativo de 0,64% ao mês com base nesse período seria
inapropriado”, argumentou a Dirben, sugerindo a adoção de uma
taxa anual de 2,09%, equivalente a 0,17% ao mês.
Essa
mudança nos parâmetros de projeção influenciou tanto as
estimativas orçamentárias, que indicam o valor do crédito a ser
autorizado pelo congresso,
quanto as estimativas financeiras, que refletem o efetivo desembolso
do governo no ano, impactando as regras fiscais. A diferença entre
esses valores decorre do fato de que uma pequena parcela dos
benefícios de dezembro é paga apenas em janeiro.
Originalmente, o governo estimava
uma despesa financeira de até R$ 909,6 bilhões, baseando-se na
possibilidade de um crescimento vegetativo anual de 3,65% — quase o
dobro da taxa calculada pelo INSS. Mesmo com a economia prevista de
R$ 9,05 bilhões, o gasto da Previdência ainda ficaria em R$ 900,1
bilhões.
No entanto, o valor
efetivamente incorporado no relatório foi de R$ 889,5 bilhões.
A estimativa financeira para a
compensação previdenciária (Comprev) inicialmente era de R$ 9,5
bilhões, mas apenas R$ 7,7 bilhões foram contabilizados no
relatório. Apenas nos quatro primeiros meses deste ano, as notas
apontam a concessão de 2 milhões de novos benefícios, um aumento
de 40,9% em relação ao mesmo período de 2023.