Por
4 votos a 2, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) arquivou, nesta
quinta-feira (20), o processo ético-disciplinar que poderia levar à
perda do mandato da deputada Lucinha (PSD).
Votaram
a favor do arquivamento do processo os deputados Cláudio Caiado
(PSD), Júlio Rocha (Agir), Renato Miranda (PL) e Vinícius Cozzolino
(União). Os votos contrários foram dados pelas deputadas Dani
Monteiro (PSOL) e Martha Rocha (PDT).
Para
manter o princípio da transparência, serão publicados no Diário
Oficial
o parecer do relator e os votos de cada deputado para amplo
conhecimento. O Conselho de Ética optou por enviar o processo à
Mesa Diretora da Casa, por meio de projeto de resolução, que pode
ser submetido ao plenário para decisão final .
Denúncia
Na
segunda-feira (17), Lucia Helena Pinto de Barros, a deputada Lucinha,
e a ex-assessora parlamentar Ariane Afonso Lima foram denunciadas
pelo procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, por suspeita de
integrar a milícia conhecida como Bonde do Zinho, Tropa do Z ou
Família Braga, chefiada por Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho,
com atuação na zona oeste do Rio.
De
acordo com as investigações, Lucinha e Ariane faziam parte do
núcleo político da organização criminosa comandada por Zinho, que
se entregou à Superintendência da Polícia Federal no Rio em 24 de
dezembro do ano passado. Segundo a denúncia entregue ao Órgão
Especial do Tribunal de Justiça (TJRJ), a milícia era composta por
um núcleo operacional, formada por três subgrupos: lideranças
principais, locais, com atuação específica nas áreas de domínio
do grupo, e assessores, também conhecidos como soldados ou
informantes.
Conforme
a denúncia, as investigações e o inquérito policial apontaram a
existência de mais dois núcleos, o financeiro, destinado à lavagem
de capitais obtidos com práticas criminosas, e o político,
integrado por Lucinha e Ariane, cuja função era a defesa dos
interesses dos criminosos junto ao Poder Público.
Em
um dos episódios que indicam interferência política de Lucinha e
Ariane a favor dos criminosos, a denúncia menciona que, em julho de
2021, ambas forneceram ao grupo informações privilegiadas
relacionadas à agenda de visitas do prefeito do Rio, Eduardo Paes, à
zona oeste, permitindo que milicianos retirassem seus integrantes das
ruas das localidades dominadas por eles.
O
documento aponta também tentativa de interferência junto ao
prefeito e outras autoridades municipais para que fosse mantida a
chamada Brecha da P5 no transporte público alternativo da cidade,
maior fonte de obtenção direta de recursos da milícia. Desta
forma, o grupo poderia explorar o serviço fora do itinerário
determinado, aumentando a arrecadação das
vans.
Além
disso, a deputada e a ex-assessora receberam do grupo criminoso
informações privilegiadas sobre a prática de crimes cujas
investigações estavam em curso para interferir no caso e determinar
a linha investigativa a ser seguida pelos investigadores. A denúncia
diz ainda que, em novembro de 2021, a deputada prestou auxílio a
membros do Bonde do Zinho que tinham sido presos em flagrante, para
que fossem liberados.
A
deputada também foi acusada de interferir, no mesmo período, junto
ao Comando da Polícia Militar e ao alto escalão político da Alerj
para remover dos cargos os comandantes da 8ª Delegacia de Polícia
Judiciária Militar e do 27º Batalhão de Polícia Militar, em razão
do combate à organização criminosa. As investigações
demonstraram ainda que, de junho de 2021 a março de 2022, Lucinha e
Ariane mantiveram encontros frequentes com os principais líderes da
milícia para estabelecer o tipo de interferência que seria exercida
junto à Alerj.
De acordo com a denúncia, a deputada
nomeou como assessores em seu gabinete, entre 2021 e 2023, parentes
de integrantes da organização criminosa.
As
acusadas vão responder pelo Artigo 288-A do Código Penal, na forma
da Lei 12.850/12, que trata do crime de constituição de milícia
privada, cuja pena pode variar de 5 a 10 anos de prisão e multa,
além da perda da função pública. Quando o Judiciário aceita a
denúncia formulada pelo Ministério Público, as denunciadas passam
à condição de rés e começam a responder ao processo judicial.