O
grupo de trabalho da reforma tributária na Câmara dos Deputados
concluiu seu parecer na madrugada desta quarta-feira, 10, realizando
uma série de alterações no texto. Entre as mudanças, destacam-se
a ampliação do cashback, a devolução de tributos às famílias
mais pobres e ajustes nas regras para medicamentos e planos de saúde,
incluindo atendimento a animais domésticos. Houve também
modificações no Imposto Seletivo, o chamado “imposto do pecado”.
No entanto, as proteínas animais
continuam fora da cesta básica com imposto zero, o que gerou
descontentamento na oposição e na bancada do agronegócio,
representada pela Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA), uma das
mais influentes do Congresso.
Na manhã e início da tarde desta
quarta-feira, lideranças ruralistas se reuniram com a bancada do PP,
partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e com membros
das frentes parlamentares, além do próprio Lira. O secretário
extraordinário da reforma, Bernard Appy, e técnicos da Fazenda e da
Receita Federal também participaram das negociações. Após a
reunião, parlamentares ligados ao agronegócio afirmaram que apenas
os pleitos sem impacto na alíquota padrão do IVA foram acolhidos.
Ou seja, as carnes permaneceram fora da cesta básica zerada, algo
que o setor tentará alterar na votação do plenário, prevista para
esta noite.
A FPA apresentou 19 pedidos de
alteração no parecer, sendo 12 sem impacto no IVA e cinco com
potencial impacto. No grupo sem influência na alíquota estavam
mudanças na classificação de insumos agropecuários, nas regras
para biocombustíveis e biodiesel, e nos artigos ligados ao
cooperativismo. Os técnicos da Fazenda estão reunidos para realizar
esses ajustes acordados.
A oposição, liderada pelo PL,
pretende colaborar com a FPA e outras frentes para garantir a
inclusão das carnes na cesta básica. O deputado Joaquim Passarinho
(PL-PA), presidente da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE),
se mostrou frustrado com a exclusão das proteínas animais,
ressaltando que todos os sete membros do grupo eram favoráveis à
inclusão.
O PL deve apresentar um destaque
propondo a inclusão das carnes, através de um pedido do deputado
Rodolfo Nogueira (PL-MS). No entanto, essa alteração teria um
impacto significativo na alíquota geral do IVA. Nos cálculos do
Ministério da Fazenda, a inclusão das carnes aumentaria a alíquota
média de 26,5% para 27%. O Banco Mundial estima um impacto de 0,57
ponto percentual. Esse aumento fez com que a equipe econômica e
Arthur Lira se opusessem à inclusão.
Atualmente, as carnes estão na
alíquota reduzida, com um desconto de 60% na tributação. Confira
as principais mudanças que serão analisadas nesta quarta-feira no
plenário da Câmara:
-
Cashback:
A devolução de tributos considerará as compras nos CPFs de todos
os membros da unidade familiar e não apenas do representante. O GT
aumentou a devolução da CBS (IVA de competência da União) de 50%
para 100% nas operações de fornecimento de energia elétrica,
água, esgoto e gás natural encanado.
-
Medicamentos:
Redução de alíquotas em 60% para todos os remédios registrados
na Anvisa ou produzidos por farmácias de manipulação. Parte dos
medicamentos conta com isenção total.
-
Plano
de saúde: As
empresas poderão se creditar de planos de saúde coletivos
previstos em convenção, incluindo planos de saúde de animais
domésticos com alíquota reduzida em 30%.
-
Imposto
do pecado: O Imposto
Seletivo sobre bebidas alcoólicas será implementado de forma
escalonada entre 2029 e 2033 para evitar carga excessiva. A alíquota
sobre minério de ferro será limitada a 0,25%. A atualização das
alíquotas específicas do Seletivo se dará por índice previsto na
lei ordinária, não necessariamente o IPCA.
-
Improbidade
administrativa:
Constitui ato de improbidade administrativa não ressarcir os
créditos ao contribuinte nos prazos estabelecidos: até 30 dias
para enquadrados em programas de conformidade, 60 dias para valores
dentro da média mensal do contribuinte e 180 dias para os demais
casos.
O líder do governo na Câmara,
deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou que a decisão final sobre
a inclusão das carnes na cesta básica cabe ao Congresso,
destacando que a prioridade é
preservar a espinha dorsal da reforma tributária, que visa unificar
tributos, acabar com a guerra fiscal, combater a sonegação e
reduzir a carga tributária.