A
aprovação, na última quinta-feira (11), da Proposta de Emenda à
Constituição (PEC 9/2023), que proíbe a aplicação de multas aos
partidos que não tiveram o número mínimo de candidatas mulheres ou
negros, representa um “ataque direto à democracia”. Essa é a
avaliação da pesquisadora em sociologia Clara Wardi, assessora
técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea). Ela
dedica-se à avaliação de políticas públicas, ao monitoramento
legislativo e aos temas de gênero e raça.
Para
Clara Wardi, o resultado é consequência de o Congresso ser
majoritariamente conservador. Para ela, o resultado passa um “péssimo
recado” para a sociedade em relação aos direitos das mulheres e
“principalmente das mulheres negras”.
A
assessora técnica da Cfemea entende que a PEC é um exemplo de
“violência política institucional contra as mulheres e as pessoas
negras”. “Expõe as limitações e dificuldades que os partidos
têm em impulsionarem essas candidaturas”. Ela lamentou ainda que a
PEC teve uma aprovação sem dificuldades. “Não é a primeira vez
que uma anistia desse tipo é feita”.
Clara
Wardi considera ainda que, nos últimos oito anos, as leis 13.165, de
2015, a 13.831, de 2019, e também a PEC-18 de 2021 acabaram eximindo
partidos do compromisso com as candidaturas de mulheres, “como essa
proposta que foi aprovada agora”.
“Misoginia
e racismo”
A
pesquisadora entende que o resultado demonstra que a “misoginia”
e o “racismo” estão “entranhados” nos representantes da
Câmara. Para a pesquisadora, a Câmara dos Deputados e o Senado
deveriam ser casas legislativas que representassem a população.
“Não à toa, a gente se depara com uma série de projetos que
visam retroagir com os direitos das mulheres e da população negra
já conquistados”.
Clara
Wardi não acredita que o resultado poderá ser revertido no Senado
porque há uma disposição majoritária dos partidos para que a PEC
seja também aprovada na Casa. Na Câmara, a votação aprovou em
dois turnos. No primeira, foram 344 votos favoráveis, 89 contrários
e 4 abstenções. Na segunda votação, foram 338 votos favoráveis e
83 contrários, com 4 abstenções. No Senado, também são
necessárias duas votações, com mínimo de 49 votos dos 81
senadores.
“Nada
fácil”
A
pesquisadora considera que, antes da votação no Senado, movimentos
sociais farão manifestações de resistência contrárias à PEC,
particularmente ligadas às mulheres feministas a aos movimentos da
população negra. “As organizações da sociedade civil que
defendem a democracia estão muito atentas à questão eleitoral”.
Ela entende que existe um esforço coletivo para confrontar PEC.
“Por
outro lado, há uma articulação partidária muito forte, inclusive
de partidos considerados progressistas, para que essa PEC caminhe. As
trincheiras nessa disputa em torno da PECnão estão nada fáceis
para os movimentos sociais”.
Ela
avalia que essa decisão faz parte de um contexto de ofensivas contra
os direitos das mulheres, como o que ocorreu em relação ao projeto
de lei 1904, que previa a equiparação do aborto ao homicídio.