O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, debateu nesta quarta-feira
(13) com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e os comandantes das
Forças Armadas a inclusão de despesas obrigatórias dos militares no
pacote de cortes de gastos que o governo federal pretende apresentar nos
próximos dias. O encontro já havia sido antecipado pelo ministro há dois dias.
"Falamos com os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica,
apresentamos os argumentos e as ideias. E eles colocaram as equipes
técnicas à disposição aqui do Tesouro Nacional, que está capitaneando,
pela Fazenda, o debate com eles. Vamos ver se nós conseguimos, em tempo
hábil, incluir mais algumas medidas no conjunto daquelas que já estão
pactuadas com os ministérios", disse a jornalistas na portaria do
Ministério da Fazenda. Haddad também se reuniu nesta quarta com o
presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, para discutir o pacote.
O pacote ainda não foi detalhado, mas foi divulgado que será composto
por uma proposta de emenda à Constituição (PEC) e um projeto de lei
complementar (PLP), que precisam ser aprovadas pelo Congresso Nacional.
Ainda não há data oficial para a apresentação das propostas.
De acordo com Haddad, o conceito do pacote fiscal é de uniformizar todas as despesas da União às regras do arcabouço fiscal,
aprovadas no ano passado. Sobre o encontro com Lira, o ministro afirmou
que o presidente da Câmara conhece a dinâmica das despesas públicas,
foi o principal fiador do arcabouço no Parlamento e apoiará a tramitação
das novas medidas de contenção do orçamento público.
"Ele [Lira] sabe que, pela dinâmica das despesas, se não conseguimos
colocar cada rubrica [despesa] dentro da mesma lógica, fica difícil
sustentar o arcabouço no tempo. Não estou falando 2025 e 2026, o
[orçamento de] 2025 já está no Congresso Nacional e 2026 é um ano a
mais. Eu acredito que não é com isso que o mercado, por exemplo, a
sociedade, estejam preocupados. Não estou preocupado em concluir o
mandato cumprindo o arcabouço. Estou preocupado com regras sustentáveis
para fazer com que ele tenha uma vigência longa e cumpra seus objetivos.
A sinalização é que ele [Lira] vai fazer todo o esforço necessário
[para aprovar]", relatou.
Em relação à data de apresentação do pacote, o ministro da Fazenda
voltou a dizer que depende do aval do presidente. Ele não soube dizer se
ocorrerá ainda essa semana, como estava previsto. "Hoje ainda nós temos
uma [nova] reunião com o presidente, não sei se há tempo hábil [para
apresentar essa semana]. Assim que ele der a autorização, nós estamos
prontos para dar publicidade aos detalhes do que já está sendo dito
aqui".
Haddad descartou a apresentação, junto do pacote fiscal, de regras
para revisão de subsídios fiscais a empresas. O ministro ainda observou
que a Receita Federal divulgou, mais cedo, dados que apontam que 54,9
mil contribuintes que utilizam créditos tributários decorrentes de
benefícios fiscais declararam ter o valor de R$ 97,7 bilhões, entre
janeiro e agosto deste ano. "Hoje nós divulgamos os dados de subsídios,
até para conter as iniciativas que visam aumentar subsídios para
determinados setores. Demos a público, pela primeira vez na história, os
incentivos fiscais dados a cada empresa, individualmente, e aos
setores, de forma agregada", criticou.
Sobre o arcabouço
O arcabouço fiscal, aprovado no ano passado, no lugar do teto de
gasto, passou a limitar o crescimento da despesa a 70% da variação da
receita dos 12 meses anteriores. Ou seja, se no período de 12 meses, de
julho a junho, o governo arrecadar R$ 1 trilhão, poderá gastar R$ 700
bilhões. Dentro desse percentual de 70%, haverá um limite superior e um
piso, uma banda, para a oscilação da despesa, com desconto do efeito da
inflação.
Em momentos de maior crescimento da economia, a despesa não poderá
crescer mais de 2,5% ao ano acima da inflação. Em momentos de contração
econômica, o gasto não poderá crescer mais que 0,6% ao ano acima da
inflação.