O governo federal está preparado para buscar uma solução judicial no
Supremo Tribunal Federal (STF) caso enfrente obstáculos no Congresso
para aprovar a taxação dos “super-ricos” e a isenção do Imposto de Renda
(IR) para trabalhadores com rendas de até R$ 5 mil. A estratégia foi
revelada pelo jornalista Daniel Rittner, da CNN Brasil, e inclui a
possibilidade de o STF atuar como mediador em conflitos entre Executivo e
Legislativo sobre o pacote de medidas econômicas.
O plano do governo, liderado pelo ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, é equilibrar a isenção fiscal das classes de baixa renda com o
aumento da carga tributária sobre rendimentos superiores a R$ 50 mil por
mês (R$ 600 mil por ano). A equipe econômica sustenta que a medida não
comprometerá a arrecadação, mas enfrenta resistências no Congresso, o
que poderia inviabilizar sua implementação sem apoio judicial.
A articulação do governo prevê que o STF funcione como árbitro caso o
Legislativo bloqueie as reformas tributárias. A ideia é criar uma mesa
de conciliação, semelhante à utilizada em discussões sobre a desoneração
da folha de pagamento, que também geraram tensões entre os poderes.
Para Haddad, o ajuste tributário é essencial para promover maior
justiça fiscal. “Estamos fazendo o que é necessário para equilibrar as
contas públicas e corrigir distorções históricas no sistema tributário
brasileiro”, teria dito o ministro a aliados, segundo fontes do
Planalto.
Reação negativa do mercado
Apesar das intenções do governo, a proposta provocou forte reação no
mercado financeiro. Nesta quinta-feira (28), o dólar ultrapassou a
barreira dos R$ 6,00 pela primeira vez desde 1994, encerrando o dia
cotado a R$ 6,003, em alta de 1,52%. A volatilidade reflete a
desconfiança dos investidores sobre o impacto das medidas na
sustentabilidade fiscal do país.
Especialistas questionam como o governo irá compensar a perda de
arrecadação com a isenção de IR para trabalhadores de menor renda e
temem que a taxação dos mais ricos não seja suficiente para cobrir o
rombo.
No Legislativo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem
mostrado cautela diante do pacote fiscal. Deputados de oposição e até
aliados do governo criticam a proposta, o que aumenta a possibilidade de
travamento das reformas.
Caso o Congresso rejeite ou demore a aprovar o projeto, a aposta do
governo em um diálogo mediado pelo STF ganha força, colocando o
Judiciário no centro de uma das mais importantes discussões econômicas
do país.
Além das dificuldades legislativas e da reação do mercado, o governo
Lula enfrenta um ambiente político conturbado, com críticas crescentes à
atuação de instituições como a Polícia Federal em casos envolvendo
parlamentares. A estratégia de recorrer ao STF pode reforçar as divisões
entre os poderes, mas também abrir caminho para aprovar mudanças
consideradas prioritárias pela equipe econômica.