No lançamento da política pública, o presidente Lula explicou que o
principal fundamento do programa é o de tornar a periferia visível. “Tem
gente que pode escolher a sua profissão. Mas tem outra parte da
sociedade que fica com o que resta. Da mesma forma, há uma parte do povo
que escolhe onde morar. E outros ficam com o que resta”, emocionou-se o
presidente.
Nesse contexto, Lula lamentou que 4,5 milhões de casas ainda não têm
um banheiro. “Eu não imaginei que isso poderia acontecer em 2024. Eu
morei em uma casa na Vila Carioca [São Paulo] com 27 pessoas. Nessa
casa, não tinha água encanada, nem banheiro com privada. A gente também
não tinha geladeira. Eu sei como é a vida daqueles que não têm direito”,
afirmou.
O presidente lembrou que o investimento em políticas públicas tem sido com bastante planejamento, uma vez que o governo busca também contenção de despesas. “A gente não pode gastar mais do que o Orçamento”. Ele defendeu a isenção de Imposto de Renda para pessoas que ganham até R$ 5 mil e, para equilíbrio das contas, defendeu cobrar mais imposto das pessoas “mais ricas”. “Vamos tentar tornar o país um pouco mais justo, humano e fraterno”.
Ele argumentou que as periferias brasileiras foram colocadas em
segundo plano historicamente. “Vocês não serão mais invisíveis. Nós
enxergamos vocês.”
Estratégias
No evento, o governo divulgou contratações de R$ 1,4 bilhão em obras
de contenção de encostas e R$ 3,3 bilhões em ações de urbanização de
favelas, ambas previstas no Novo PAC.
O Executivo defendeu que esse seria o maior pacote de políticas
públicas para as periferias do país. O programa Periferia Viva reúne
investimentos em infraestrutura urbana realizados pelo Ministério das
Cidades e ações de outros 16 ministérios parceiros.
O programa Periferia Viva prevê um pacote de ações para a elaboração
de 120 planos municipais de redução de riscos em municípios críticos,
com foco em propor obras que reduzam os riscos nas periferias dessas
cidades.
Segundo o governo, a perspectiva é que, até 2026, todos os municípios
que tenham favelas (em áreas de risco alto ou muito alto) sejam
beneficiados com planos municipais de Redução de Riscos financiados pelo
governo federal, com investimento de R$ 63 milhões. Além disso, 19 mil
contratos de regularização fundiária e melhorias habitacionais, em oito
estados brasileiros, terão investimento federal superior a R$ 85
milhões.
Outra ação anunciada foi um convênio entre o Ministério das Cidades e
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para
viabilizar pesquisas e produção de dados sobre favelas e periferias
brasileiras.
Reconhecimento
O programa também reconheceu iniciativas sociais nas periferias.
Entre eles, o da pernambucana Joyce Paixão, que atua às margens do Rio
Capibaribe. “A gente fez um plano de adaptação, e com presença e
mitigação para os efeitos das chuvas.”
Outro premiado foi o Favela Gastronômica, da brasiliense Cleide
Morais. Trata-se de uma escola de gastronomia social que promove
segurança alimentar, combate o desperdício de alimentos nas periferias e
gera soluções sustentáveis para enfrentar a fome e reduzir as
desigualdades sociais. “Há mais de 20 anos esse trabalho começou e
tivemos nossos objetivos reformulados em 2020, durante a pandemia da
covid-19", destacou ela.
“O projeto foi proposto por mulheres da comunidade, do bairro Nossa
Senhora de Fátima, em Planaltina [DF]. As pessoas beneficiadas são
moradoras das periferias, que vivem em situação de vulnerabilidade. “A
gente promove essas formações na área da gastronomia para serem
inseridas no mercado de trabalho formal e abrirem o próprio negócio. O
projeto está voltado especialmente para as mulheres negras, que são as
que mais sofrem de insegurança alimentar”, explicou.