A Câmara dos Deputados realiza nesta terça-feira (3) a primeira etapa
de tramitação do pacote fiscal apresentado pelo ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, na semana passada. O presidente da Casa, Arthur Lira
(PP-AL), pautou para votação o regime de urgência de dois projetos que
integram o conjunto de medidas.
As propostas são parte do esforço do governo federal para ajustar as
contas públicas e garantir previsibilidade orçamentária, mas enfrentam
resistência, especialmente em temas sensíveis como a mudança na regra de
valorização do salário mínimo e os critérios para benefícios sociais.
Entre os projetos de lei que terão o regime de urgência analisado, destacam-se:
- Revisão de benefícios sociais: Inclui um pente-fino
no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e no Bolsa Família, além de
alterar a regra de correção do salário mínimo.
- Gatilhos fiscais: Prevê a proibição de concessões
ou ampliações de benefícios tributários em casos de déficit
orçamentário, além de permitir o bloqueio de emendas parlamentares.
O governo também enviou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
para alterar as regras do abono salarial, mas outras iniciativas, como
mudanças no Imposto de Renda e na previdência dos militares, ainda
aguardam envio ao Congresso.
A limitação na valorização real do salário mínimo desponta como o
ponto mais controverso do pacote. Atualmente, o piso salarial é
reajustado com base na inflação do ano anterior e no crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Com a proposta, o
aumento ficaria restrito a 2,5%, inferior aos 2,9% previstos pela regra
atual.
O ministro Haddad justificou a medida como necessária para equilibrar
as contas públicas, destacando que ela pode gerar uma economia de R$ 3
bilhões em 2025.
“Essa limitação é essencial para dar previsibilidade às ações de corte de custos”, afirmou Haddad.
Por outro lado, a oposição promete resistir à proposta, acusando o
governo de enfraquecer a política de valorização salarial retomada pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de seu mandato.
O governo aposta na articulação política liderada por Arthur Lira
para garantir a aprovação do regime de urgência e acelerar a tramitação
do pacote. A estratégia é evitar que os pontos mais polêmicos, como o
salário mínimo, contaminem o debate sobre outras medidas consideradas
essenciais para o ajuste fiscal.
Apesar do esforço, a oposição deve explorar ao máximo o tema do
salário mínimo para desgastar o ministro Haddad e a base governista.
“Vamos questionar cada ponto que
afete diretamente os trabalhadores e a população mais vulnerável”,
indicou um parlamentar da oposição.
A decisão da Câmara sobre o regime de urgência é um teste para a
capacidade de articulação do governo, que busca equilibrar demandas
políticas e a necessidade de aprovação das medidas fiscais antes do
recesso de fim de ano.