O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, declarou
nesta quarta-feira, 4, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha
conhecimento do plano para mantê-lo no poder por meio de uma tentativa
de golpe de Estado. A afirmação ocorre no contexto do inquérito que
indiciou Bolsonaro e outras 36 pessoas, acusado de participar de uma
organização criminosa com esse objetivo.
“Todos os elementos de prova indicam que sim, o ex-presidente sabia
da trama golpista”, afirmou Andrei durante entrevista no Instituto
Nacional de Criminalística (INC). Ele citou evidências como depoimentos,
trocas de mensagens, registros de impressoras e entradas no Palácio do
Planalto. “É uma investigação muito responsável. Tudo o que está posto
ali tem sustentação fática”, reforçou.
O relatório da PF sugere que Bolsonaro “planejou, atuou e teve
domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela
organização criminosa que objetivava a concretização de um Golpe de
Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se
consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade”.
Andrei revelou que a investigação se concentrou nos atos executórios
do plano golpista e que novas diligências estão em curso. “Houve
apreensão de mais mídias na operação Contragolpe, e o ministro Alexandre
de Moraes determinou a oitiva de novas pessoas”, informou.
Entre os depoimentos programados, a PF ouvirá novamente nesta
quinta-feira, 5, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, sob
ordem de Moraes. Embora a PF tenha identificado possíveis omissões e
contradições nos depoimentos de Cid, o diretor-geral negou que tenha
solicitado o cancelamento do acordo de delação premiada do militar.
A tensão em torno do caso também chegou ao Congresso. Durante uma
audiência na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados,
nesta terça-feira, 3, o deputado Marcel Van Hattem (NOVO) desafiou
Andrei Rodrigues a prendê-lo em flagrante após críticas ao delegado
Fábio Shor, responsável por parte das investigações.
“Se é entendimento de que estou cometendo crime contra a honra, porque o diretor-geral da PF não me prende agora?”, provocou Van Hattem, que é investigado pelos crimes de calúnia e difamação após chamar Shor de “abusador de autoridade”. Na semana passada, Bolsonaro clamou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por uma “anistia” aos presos pelos atos golpistas de 8 de janeiro.
“Para pacificarmos o Brasil, alguém tem que ceder. Quem tem que ceder? O senhor Alexandre de Moraes”, afirmou Bolsonaro em entrevista à Revista Oeste. Ele reforçou o apelo aos ministros do STF: “Eu peço, por favor, repensem. Vamos partir para uma anistia, vai ser pacificado.”