A denúncia formal contra Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado movimentou o cenário político e jurídico, mas não ajudou a melhorar a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que enfrenta uma rejeição crescente e um cenário eleitoral desfavorável.
Desaprovação de Lula atinge 55% e cresce em todas as regiões, aponta Paraná Pesquisa
Pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, divulgada nesta terça-feira (18), revela que Bolsonaro venceria Lula tanto no primeiro quanto no segundo turno caso as eleições presidenciais fossem hoje. No primeiro turno, Bolsonaro aparece com 36% das intenções de voto, enquanto Lula tem 33,8% — um empate técnico dentro da margem de erro de 2,2 pontos percentuais. Já no segundo turno, a vantagem do ex-presidente se amplia, alcançando 45,1% contra 40,2% de Lula, consolidando uma possível vitória.
O levantamento mostra que, mesmo com a denúncia da PGR e as investigações da Polícia Federal, a desaprovação ao governo petista continua alta. Dados anteriores do Paraná Pesquisas indicam que 55% dos brasileiros reprovam a administração de Lula, enquanto apenas 42% aprovam. O desgaste do governo se espalha por diversas faixas da população, principalmente entre os mais jovens, trabalhadores e eleitores com maior escolaridade.
Inquérito e julgamento levantam questionamentos
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro incluiu uma acusação grave: a de que ele teria tomado conhecimento e “anuiu” ao plano “Punhal Verde Amarelo”, que previa o assassinato de autoridades, incluindo Lula, seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
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Apesar da gravidade da alegação, não há provas diretas de que Bolsonaro tenha aprovado o plano. Os indícios citados pelo procurador-geral Paulo Gonet baseiam-se em mensagens interpretativas trocadas entre militares próximos ao ex-presidente. Além disso, o relatório da Polícia Federal (PF) apresenta repetidas expressões condicionantes, como “possível” (207 vezes), “teria” ou “teriam” (107 vezes) e “hipótese” (25 vezes), levantando dúvidas sobre a robustez das acusações.
Outro ponto que causa insatisfação nos bastidores do STF é a decisão de Alexandre de Moraes de levar o julgamento de Bolsonaro à Primeira Turma da Corte, em vez do plenário completo. Ministros discordam da escolha e argumentam que um caso dessa magnitude deveria ser julgado por todos os 11 integrantes do tribunal. “Não dá para julgar um ex-presidente desta forma”, afirmou um dos magistrados.
A medida é vista como uma tentativa de evitar debates públicos e divergências que poderiam surgir no plenário, onde ministros indicados por Bolsonaro, André Mendonça e Kassio Nunes Marques, poderiam questionar a condução do processo. No julgamento dos réus do 8 de janeiro, Moraes enfrentou resistências dentro da própria Corte, e a aplicação de penas severas gerou discussões intensas.
O risco político para Lula
Se o governo apostava que o desgaste jurídico de Bolsonaro resultaria em uma melhora na imagem de Lula, os números mostram o contrário. A população segue insatisfeita com a economia, a inflação e os juros altos, e a estratégia do governo de manter Bolsonaro no centro das atenções não está revertendo a desaprovação.
Além disso, o próprio Lula tem alimentado tensões políticas ao atacar Banco Central, Petrobras, Ibama e até a Vale, gerando instabilidade econômica e incerteza no mercado. Enquanto isso, a base bolsonarista se fortalece, mobilizando manifestações e ganhando fôlego para 2026.
A realidade dos números indica que, apesar da denúncia e da crise judicial, Bolsonaro mantém apoio eleitoral significativo, enquanto Lula continua perdendo espaço. Se a estratégia do Planalto for apenas insistir na retórica anti-Bolsonaro, sem apresentar soluções concretas para os problemas do país, o risco é que o governo petista se desgaste ainda mais e chegue fragilizado às próximas eleições.