O cerco se fechou ainda mais para o ministro das Comunicações, Juscelino Filho. A Procuradoria-Geral da República (PGR) formalizou nesta terça-feira (8) uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) que pode transformar o deputado licenciado e atual integrante do governo Lula (PT) em réu por uma série de crimes, incluindo organização criminosa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e fraude à licitação.

A acusação é baseada em investigação da Polícia Federal, que aponta o desvio de ao menos R$ 835,8 mil em recursos públicos destinados a obras de pavimentação em Vitorino Freire (MA), cidade comandada pela irmã do ministro, Luanna Rezende.

As verbas desviadas vinham da Codevasf, estatal que virou símbolo do uso político de emendas parlamentares. A PF afirma que a obra supostamente fraudada beneficiou diretamente propriedades da família de Juscelino e foi executada por empresas ligadas ao empresário Eduardo DP, acusado de ser o chefe de um esquema com fachada de empreiteira e sócio oculto de contratos milionários.

As investigações revelaram mensagens no celular de Eduardo DP que, segundo a PF, colocam Juscelino no centro do esquema:

“Resta cristalina a relação criminosa pactuada entre Juscelino Filho e Eduardo DP”, diz trecho do relatório policial, que classifica o ministro como “engrenagem conhecida dentro da organização criminosa”.

A defesa do ministro reagiu como já se tornou praxe: alegou não ter sido notificada formalmente, reclamou de “vazamentos seletivos à imprensa” e acusou o Ministério Público de resgatar o espírito lava-jatista.

“É um indício perigoso de estarmos voltando à época punitivista do Brasil, quando o MP conversava primeiro com a imprensa antes de falar nos autos”, afirmou em nota.

O texto ainda afirma a “total inocência” de Juscelino e diz que ele apenas indicou emendas para beneficiar a população, como se a corrupção, se houve, fosse um efeito colateral administrativo.

O relator do caso no Supremo será o ministro Flávio Dino, que ironicamente foi colega de Juscelino no governo e agora terá de lidar com a bomba. Se Dino aceitar a denúncia, Juscelino se tornará réu formal no STF — o que tornaria insustentável sua permanência no cargo do ponto de vista político e moral, ainda que legalmente ele possa continuar.

A situação é um constrangimento evidente para o Planalto. Não apenas porque Juscelino segue no governo mesmo após ter sido indiciado pela PF em junho de 2024, mas porque a denúncia aprofunda o desgaste da imagem ética que o presidente Lula tentou construir neste terceiro mandato. Manter Juscelino no cargo agora equivale a uma confissão de fraqueza política ou cinismo institucional — e nenhuma das duas opções ajuda num governo já pressionado por escândalos e falta de articulação.

Até o momento, o governo não se pronunciou oficialmente sobre a denúncia, mas nos bastidores a temperatura está alta. O ministro é do União Brasil, partido de centro que ocupa espaço relevante na base governista e que não hesitará em usar o episódio como moeda de troca por mais espaço — ou menos responsabilidade.

Enquanto isso, o STF se prepara para decidir se vai transformar o caso em ação penal. Se a denúncia for aceita, Juscelino não terá mais como se esconder atrás da retórica de “factoides” — estará formalmente no banco dos réus e, com isso, o governo Lula terá um novo símbolo para a coleção de crises que vêm sendo empurradas com a barriga.

A pergunta que paira agora é: até onde Lula vai sustentar um ministro acusado de formar quadrilha com a própria família? Porque o STF pode até decidir o futuro jurídico de Juscelino. Mas o desgaste político, esse já está contratado.